segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Aprenda a escutar

Não há delícia maior do que perceber alguém nos escutando, com toda a atenção. É um prazer encontrar uma pessoa que acompanhe cada palavra do que estamos dizendo e é capaz de nos compreender – com todo o coração.
Se é bom ser escutado, também é ótimo escutar, estar disponível para o outro, com toda a tranqüilidade.

“Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito. É preciso também que haja silêncio dentro da alma”, escreveu o poeta português Fernando Pessoa sob o pseudônimo de Alberto Caiero.

É isso – silêncio dentro da alma. Não dá para escutar ninguém se os pensamentos estão nos atropelando sem cessar, se estamos pensando no que temos de fazer daqui a pouco. É preciso estar calmo, aberto, atento ao momento presente para poder ouvir com atenção. “Escutar é uma experiência transformadora. É testemunhar a existência”, diz o psicólogo e professor paulista Miguel Perosa. Ele garante que aprendemos muito sobre nós mesmos ao ouvir os outros...


Quando a gente ouve alguém com atenção, dá o sinal verde para a pessoa se abrir. A relação de troca que se forma então é muito mais rica e profunda...
Escutar é mesmo um grande exercício – que, infelizmente, poucos dominam... Saber escutar é esquecer um pouco de si mesmo enquanto o outro fala. Quem fala demais não deixa o outro falar. E, é claro, não abre espaço para ouvir.

Para desenvolver esse silêncio interior, tão necessário para o florescimento dessa arte, existem vários caminhos. Alguns podem aprender a escutar ouvindo com atenção os sons da natureza: o murmúrio de um rio, o barulho da chuva. O compositor carioca Tom Jobim, por exemplo, aprendeu a ouvir com os pássaros. Ele costumava se embrenhar pelas matas brasileiras munido de gravador e flauta transversal. Queria justamente atrair a atenção dos passarinhos para depois escutá-los com calma.

Jobim acreditava que as aves emitiam o canto mais sagrado da natureza. Para ele, todas as melodias provinham daquele cantar. Escutar os pássaros, então, funcionava como um exercício de refinamento interior, além de aprimorar o ouvido. Diante deles, a ansiedade desaparecia para dar lugar ao encantamento. Finalmente, conseguia ficar em silêncio, sem dar um pio. E depois aplicava esse aprendizado ouvindo atentamente as pessoas...

Liane Camargo de Almeida Alves

Nenhum comentário:

Postar um comentário